Nos teus braços...
Quero dar-te um beijo que abrace a nossa vida toda, um eterno beijo demorado por toda a tua pele… Começaria na pontinha dos dedos dos teus delicados pés, passando depois, lentamente, pela parte de trás dos teus joelhos bonitos, demorando-me pelos lados da tua deliciosa barriga, saboreando o salgado da tua pele, arrepiando-te com as carícias da minha barba... Depois, tranquilamente, beijar-te-ia os ombros nus expostos à avidez dos meus olhos, para rapidamente tomar posse dos teus lábios vermelhos e quentes de desejo. Subiria aos teus olhos húmidos de amor, onde deixaria dois beijos tranquilos e seguros, para logo descer com pressa ao teu longo pescoço esguio, onde me iria demorar brincando, lambendo e mordendo. Tenho a certeza que as tuas cócegas e os teus protestos me fariam descer para o teu umbigo, onde a minha língua te convidaria a mergulhar na sensação antecipada da volúpia…
Mexes-te, não consegues deixar de o fazer, e obrigas-me a olhar para o teu corpo, quente, sedutor, ofegante, rendido, ávido, pronto para me receber… mas eu teimo em devorar-te com reticências, desdobro-me em pontos e vírgulas, em parágrafos demoradamente descritivos e insinuantes, esbracejando conversas de circunstância, discorrendo inutilidades com dialetos de ternura, compondo textos de sensações, descobrindo raios de sol nas tuas húmidas planícies, criando novos espaços em cada centímetro do teu pensamento, escrevendo livros de poemas que cabem inteiros na tua pele macia, que agora é minha…
Continuo e mordisco o tempo, soprando brisas quentes de loucura, enquanto as minhas mãos te guiam por caminhos de liberdade que ultrapassam o tempo e o espaço, descobrindo em nós praias desertas, criando marés de soluços, gemidos abafados pelas ondas incontroladas que teimam em te fustigar, montanha russa de emoções, luz, sol, vento, calor, gritas, rodopias e vês tudo, és tudo e, de repente, aquela explosão em que nós dois nos tornamos um, voltamos a ser um, voltamo-nos a encontrar e a reconhecermo-nos nos olhos um do outro, na alma um do outro… E somos, como sempre soubemos que éramos, um do outro...
Lentamente, os teus sentidos regressariam e sentir-te-ias a flutuar... lentamente descerias dessa nuvem macia, anjo tornado humano, o corpo como que mergulhado numa piscina imensa de água tépida onde pequenas ondulações de prazer ainda acariciariam a tua pele... lentamente regressarias a ti, acomodarias os meus derradeiros movimentos, os meus últimos beijos e carícias, as minhas últimas dedicatórias após as quais, aconchegado na tua alma, assinaria o meu nome: teu.