Aninhar-te-ás, perfeita, na segurança do meu colo?
Passam vinte e oito minutos da uma da manhã, vinte e oito irrecuperáveis minutos. A minha filha está a dormir no quarto... Hoje foi um dia agitado, cheio, preenchido... fabuloso. Contigo! Penso em ti e um sorriso tonto aflora-me aos lábios :o). Não sei porquê... Olho a parede vazia à minha frente tentando compreender de onde me vem este calor, esta paz, esta alegria imensa e tranquila que me preenche totalmente… e sobe-me aos olhos o teu rosto… sorrio :o)
Imagino a superfície calma de um lago, numa noite estrelada e tépida, segredos partilhados pelos teus suspiros aos ouvidos do meu desejo… e sorrio um pouco mais... Oiço um carro que passa lá fora... imagino as pessoas lá dentro e o tempo que passa! Oiço outro carro que faz mais barulho que as teclas que pressiono ao me partilhar agora contigo... Faz-se tarde e o tempo passa. Não fora a tua competência para amar e nós nunca teríamos acontecido, como na letra dos “Clã”. Transformaste-me, pegaste em mim e fizeste-me melhor. Fizemo-nos e continuamo-nos a construir. Não foras tu, e as minhas semanas igualizar-se-iam, repetidias. Não foras tu, e a minha vida ficaria ali, horizontal, prometida, cristalizada, obituada a prazo. Sacudiste-me. Ressuscitei. Existo. Existimos! :o)... É isso que torna cada instante em que me estendes a mão único e irrepetível, a excitação de renovar em cada segundo a vontade de estar contigo, o privilégio de te poder acompanhar em mais um dia da tua vida. E sorrio :o)
Saboreio-te com a mesma intensidade do rasto de uma gota de água num copo de vidro transparente, transpirante: ela existe descendo-o devagar, não importa a direção, sorvendo-o, sentindo-o, abraçando-o, respirando-o, sendo-o, percorrendo todos os momentos de forma única, cada relevo dele como se fosse a descoberta mais fundamental e fantástica no seu curto percurso de vida... Uma e outro, multiplicam-se amantes, ultrapassam a soma das partes, sexualizam-se tocando-se demoradamente e, ao se percorrerem, são mais do que dois em cada momento, prometendo-se a um “para sempre” que dura a eternidade do instante partilhado... E aí, agora, o meu corpo anseia pelo teu, os meus braços ardem de sede pela pele que é tua, os meus olhos devoram as curvas das tuas costas na contraluz da janela, os meus ouvidos antecedem a explosão rouca do teu prazer que se fará meu… e sorrio :o)
Sorrio com o corpo todo e com o coração, sorrio com a vida e contigo, sorrio com a certeza da Afrodite que habita em ti e que me transforma num Eros dedicado. Faz calor. Sinto-me no paraíso cada vez que te imagino. Faz calor... o que não é surpresa nenhuma: “Faz sempre calor no paraíso, ou Eva não andaria nua!” como observou Pedro Rosa Mendes. E tu fazes-me sentir no paraíso :o). Andarás nua, hoje, pelos lençóis frescos do teu quarto? Quanto do teu perfume embriaga a forma do meu corpo na tua cama? Quantos dos teus cabelos longos e sedutores acariciam os beijos que deixei no teu pescoço perfeito? Quanta da tua pele macia procura irrefletidamente o toque quente, decidido, dos meus dedos? Passearás os teus sonhos pelo meu rosto que te fita? Buscarão os teus lábios, na humidade da noite, o meu beijo desajeitado? Aninhar-te-ás, perfeita, na segurança do meu colo? Colocarás o braço na minha almofada para sentires o calor prometido do meu peito ausente?... Sorrio :o)
Existimos grávidos de nós, morremos e renascemos em cada olhar cúmplice, em cada cama desfeita com tempo, em cada urgência lasciva, em cada abraço terno, nos mimos e nas palavras de amor partilhado, esse amor que quase dói de ser tanto e tão bom... Por isso tive que o dizer hoje, com a urgência de quem não pode perder mais tempo: sorrio porque te amo.