Tenho-te saudades...
Acordei devagar, sonolento e apaixonado. Hoje não quero abrir os olhos: quero pensar que a seda da tua camisa de dormir é na realidade a textura da tua pele macia, na cama ainda morna da temperatura do teu corpo. Não quero fazer a cama: quero que o teu perfume perdure nos lençóis e embriagar-me na ilusão da tua presença. Hoje não quero fazer mais nada senão estar aqui, deitado, sonolento e de olhos fechados, para estar tranquilamente contigo.
A persiana mal fechada faz ondular a claridade do dia a nascer na nossa cama. Confundo a recordação de ti com a certeza de estares ao meu lado. “Cheiras bem”, digo-te, sorrindo da maneira que tu conheces e que te apaixonou naquele dia. “Dizes sempre isso!”, responderias tu, invariavelmente sedutora, fazendo-me uma carícia no rosto… Que outra coisa posso eu dizer senão que o teu cheiro me abriga o desejo, me embriaga os sentidos e me faz desejar que cada dia não acabe nunca? Que outra coisa posso fazer senão amar-te como quem mata a uma sede infinita com uma fresca água cristalina? Que outra coisa posso fazer senão ter saudades tuas como se cada segundo afastados fosse um ano completo de ausência?
Viro-me de lado, para a parede, e ainda sinto os braços que deixaste à minha volta pouco antes de saíres com cuidado para não me acordares. Mas eu acordei, acordo sempre, mesmo que não abra os olhos e que me mantenha em silêncio, só para disfrutar de ti em mim. Acordei no dia em que disseste “Talvez, vamos ver!”… não dizes “Sim” facilmente, é algo a que já me habituei. Às minhas perguntas respondes com outras ou assumes gestos que me tiram as palavras e o fôlego, guiando-me vacilante, entre a razão da realidade e a emoção do que poderia ser.
Acordei devagar, sonolento e apaixonado por ti... Como é possível que isso me tenha acontecido? Quer dizer, logo a mim!! Como é possível esta tempestade silenciosa, esta tranquilidade superficial que só acalma verdadeiramente quando os meus olhos encontram os teus e te veem sorrir nos meus? Não quero levantar-me da cama hoje: quero prolongar o teu abraço no meu corpo nu, fixar o teu cheiro na minha pele, quero transbordar lentamente para o lago ondulante e luminoso que escorre da persiana do meu quarto e me enche os sentidos com a memória da tua presença na minha vida. Não quero fazer a nossa cama hoje: quero amar-te, aqui e agora, sempre.
És tão bonita para mim... Tenho-te saudades…