Cheguei tarde a casa e, como sempre, tenho-te saudades…
Cheguei tarde a casa e tenho saudades tuas… Amo-te, sabes? Sei que não sei escrever como ele, as frases certas, a métrica correta, as palavras cativantes, a sedução da ausência de uma história... Mas amo-te. Existe um silêncio enorme, palpável, à minha volta, mesmo quando rodeado de pessoas…. Levo os restos do nosso amor para a cama, para me aconchegar, como se de um lençol se tratasse, mas não consigo afastar o frio da tua ausência… Gostava de ter dançado contigo uma dança completa, poderíamos tê-lo feito pelo menos uma vez… mas nunca o fizemos… Gostava de ter rodopiado contigo cintada nos meus braços: que memórias teríamos agora? Que música nos teria envolvido? Que palavras teríamos sussurrado? Que beijo teríamos entregue aos lábios um do outro? Que promessas teríamos trocado? De que cor pintaríamos este nosso amor?...
Tenho saudades tuas… E a imagem dos nossos filhos passa-me pela janela dos olhos. Tenho a certeza que as sapatilhas deles alinhadas ao pé da nossa cama ainda te fazem sorrir tanto como da primeira vez… Um acontecimento não passa de um acontecimento até que alguém lhe dê significado e tu deste-nos significado, tempo, espaço e cores… E por isso pinto o nosso amor com a cor do riso quente dos nossos filhos enquanto se banhavam na cascata da nossa praia secreta, inocentes e felizes. Pinto o nosso amor com a cor do seu riso enquanto disputavam um lugar ao nosso lado para ver um filme, ou para poderem justificar a posse do primeiro crepe que fizemos. Pinto o nosso amor com a cor do que senti dentro de mim de cada vez que cheguei a casa e fui envolvido pelos cheiros familiares da vida, pelo som de passos a correr no corredor, pelo som da tua voz meiga ao me receberes, perfeita...
Tenho saudades tuas... E nos meus sonhos pinto o nosso amor com a cor transparente e quente das lágrimas que chorámos juntos ao entardecer naquela praia, depois de ter feito centenas de quilómetros só para te ver… Nos meus sonhos pinto o nosso amor com a cor da tua voz tranquila à mesa do café com o mar ao fundo enquanto, cúmplices, tomávamos o pequeno-almoço. Pinto o nosso amor com a cor do beijo que te dei nas pálpebras dos teus olhos de cristal e com a cor do arrepio que um toque dos meus dedos te provocava na pele nua. Pinto o nosso amor com o tom macio do teu longo cabelo de ouro e com a intimidade excitante do teu perfume. Pinto o nosso amor com a cor das nossas luxuriosas noites de sábado e com o azul plácido das manhãs de domingo em que te abriguei nos meus braços…
Tenho tantas saudades tuas... E pinto o nosso amor da cor das estrelas, lá longe, onde sempre te disse que os nossos nomes estavam gravados. Pinto o nosso amor da cor dos teus olhos, da cor da tua pele, da cor dos teus lábios, da cor do teu coração, da cor da tua bondade, da cor da tua força e da tua fragilidade… Pinto o nosso amor da cor do perdão e com os tons cuidados de um desejado regresso a casa no final de uma viagem demasiado longa… Pinto o nosso amor com todas as cores que faltam aos dias cinzentos… Pinto o nosso amor com as três letras que deixavas no final dos pequenos recados que escrevinhavas nos post-it colados no ecrã do meu computador: GMT.
Cheguei tarde a casa e tenho-te saudades… Sei que não sei escrever como ele, as frases certas, a métrica correta, as palavras cativantes... Mas tenho a nossa história e pinto o amor, como sempre o farei, com a cor do teu nome…