Quando esse dia chegar, senta-te ao meu lado e pede-me que fale de ti...
Chegará um dia em que não te lembrarás do primeiro dia em que nos vimos. Chegará um dia em que já não preencherei o teu universo e tu já não chegarás ao final da tarde ansiosa pelo calor dos meus braços. Chegará um dia em que as alianças que um dia oferecemos um ao outro te parecerão grilhões sem sentido...
Haverá um dia em que a nossa viagem parecerá demasiado longa e o silêncio entre nós, dantes tranquilo, te parecerá incómodo. Haverá um dia em que a minha pele te parecerá áspera e a minha voz irritante e mesmo o mel dos meus lábios, outrora doce, te saberá amargo. Chegará um dia em que a minha barba, ao invés de um delicioso arrepio sensual, te provocará apenas desconforto. Haverá um dia em que a tua mão macia aninhada na segurança da minha te parecerá um afeto desnecessário. Chegará um dia em que os caminhos da nossa descoberta conjunta te parecerão erros imperdoáveis, e as nossas fotos, em vez de memória, ocuparão apenas espaço no teu computador. Chegará um dia em que os meus textos de amor, que ontem adoraste, te soarão apenas como palavras alinhadas, ocas. Haverá um dia em que os meus passos nas escadas, no passado esperados com alegria, substituirão a saudade do abraço pela desilusão da presença controladora...
Eu sei… Chegará um dia em que a tentativa dos meus dedos para acariciar o teu cabelo te provocará apenas um recuo, e a borboleta que outrora esvoaçava no teu estômago quando ouvias a minha voz, se retirará para um casulo bem lá no fundo de ti. Chegará um dia em que não mais recordarás todas as viagens que fiz para ir ter contigo a todas as cidades onde estavas, em que perderás no nevoeiro dos dias iguais os sonhos que voei contigo nos beijos que te dei. Haverá um dia em que os teus olhos transportarão lágrimas amargas e o teu coração não me sentirá da mesma forma… Haverá um dia em que para ti me tornarei dúvida e não conseguirás ver que em mim continuas certeza…
Quando esse dia chegar, senta-te ao meu lado e pede-me que fale de ti... E depois ouve-me a falar da chuva que nos encontrou abraçados no meio de um prado naquela ilha fantástica, ou do vento que soprou os teus cabelos quando te disse, olhos nos olhos, que te amava… Falar-te-ei do calor da tua pele e da incontida felicidade de ter simplesmente as mãos dadas contigo sem precisar de mais nada no mundo; falar-te-ei dos olhos pelos quais todos os dias me apaixono e na forma como mudam de cor quando estás alegre, triste ou chateada… Falar-te-ei das músicas que gostas e das cores que detestas, e dos seis sorrisos diferentes que me consegues fazer, e do calor que a tua alma me transmite quando estamos juntos, e do desejo que incendeias em mim quando te aproximas, sedutora… Falar-te-ei da primeira vez que nos amámos iluminados pela lua cheia e nos prometemos “para sempre”... Falar-te-ei de como o reflexo da luz no ouro dos teus longos cabelos me deixa sempre sem respiração e de como o teu perfume me faz sentir o homem mais sortudo do mundo... Pede-me para falar de ti, mas não te admires se eu apenas conseguir dizer o teu nome, outra e outra vez, com um sorriso apaixonado a contornar o meu rosto enquanto seguro as tuas mãos, as mãos que me definem... Quando esse dia chegar, amor, senta-te ao meu lado e pede-me que fale de ti...