Last rendez-vous...
O som do mar amortece-me os sentidos… O sussurro das ondas pacifica-me os pensamentos… Este céu de verão quente e antecipado chegou devagar, com um denso negro pontilhado por incomensuráveis estrelas de todos os tamanhos… A lua ainda não surgiu mas, quando o fizer, estará cheia e será imensa, como o mais belo dos globos de cristal que algum dia existirão… Deitado e de olhos fechados, sinto nas costas o calor que a areia acumulou ao longo da tarde solarenga e que agora devolve ao meu corpo cansado... O som do meu coração junta-se ao constante murmurar das ondas que, incansavelmente, se deitam na praia, uma e outra vez, como o fazem há milénios, desde que te amo…
É aqui neste lugar mágico que me entrego ao universo, nesta fração de praia, neste fragmento de mundo… É aqui que tento compreender-me e compreender-te, compreender-nos. É aqui que tento aclarar as noites escuras que trago dentro… É aqui que peço perdão e que agradeço, é aqui que me deixo chorar e que renovo a esperança, é aqui que me encontro e que me perco, é que aqui que te sinto… Perante a imensidão do universo, não entendo como é que a nossa pequenez comporta um sentimento desta grandeza… O amor, o amor, o amor, o tudo e o nada juntos numa única palavra: amor…
Eu amei-te ali naquela praia, em silêncio e em gritos, em pranto e em risos, amei-te nos recantos da tua pele, no calor do teu peito, no fogo dos teus lábios, no ouro dos teus cabelos, na paz das tuas mãos, na luz do teu olhar, eu amei-te ali de todas as formas puras e escandalosas que conheço para que os deuses, ofendidos, te pudessem arrancar do meu peito e castigar-me com a desejada misericórdia de não mais te sentir… Mas até nisso eles falharam, vê tu… Ri-me de mim próprio e deles… Em silêncio sacudi os pensamentos enquanto o rumor distante das ondas, tranquilo, voltava a acordar o bater do meu coração…
A lua já apareceu, cheia e imensa como o mais belo dos globos de cristal que algum dia existirão… Levantei-me... Dei dois passos e parei para sacudir a areia das calças e da camisa… Algo me fez olhar para trás e então reparei que no sítio onde estive deitado, o luar recortava duas silhuetas na areia, uma ao lado da outra, como que de mãos dadas… Posso jurar que, nesse breve instante, a brisa me fez chegar a fragância do teu inconfundível perfume… Agradeci ao universo e, lentamente, regressei a casa...