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Entre Voos

A vida também acontece entre voos, entre momentos, entre o ontem e o amanhã. "Entre Voos" é um espaço de sentimentos feitos palavras, onde se espera pela vida como por um voo na sala de um qualquer aeroporto...

Entre Voos

A vida também acontece entre voos, entre momentos, entre o ontem e o amanhã. "Entre Voos" é um espaço de sentimentos feitos palavras, onde se espera pela vida como por um voo na sala de um qualquer aeroporto...

26
Abr16

Last rendez-vous...

Entre Voos

 

O som do mar amortece-me os sentidos… O sussurro das ondas pacifica-me os pensamentos… Este céu de verão quente e antecipado chegou devagar, com um denso negro pontilhado por incomensuráveis estrelas de todos os tamanhos… A lua ainda não surgiu mas, quando o fizer, estará cheia e será imensa, como o mais belo dos globos de cristal que algum dia existirão… Deitado e de olhos fechados, sinto nas costas o calor que a areia acumulou ao longo da tarde solarenga e que agora devolve ao meu corpo cansado... O som do meu coração junta-se ao constante murmurar das ondas que, incansavelmente, se deitam na praia, uma e outra vez, como o fazem há milénios, desde que te amo…

 

É aqui neste lugar mágico que me entrego ao universo, nesta fração de praia, neste fragmento de mundo… É aqui que tento compreender-me e compreender-te, compreender-nos. É aqui que tento aclarar as noites escuras que trago dentro… É aqui que peço perdão e que agradeço, é aqui que me deixo chorar e que renovo a esperança, é aqui que me encontro e que me perco, é que aqui que te sinto… Perante a imensidão do universo, não entendo como é que a nossa pequenez comporta um sentimento desta grandeza… O amor, o amor, o amor, o tudo e o nada juntos numa única palavra: amor…

 

Eu amei-te ali naquela praia, em silêncio e em gritos, em pranto e em risos, amei-te nos recantos da tua pele, no calor do teu peito, no fogo dos teus lábios, no ouro dos teus cabelos, na paz das tuas mãos, na luz do teu olhar, eu amei-te ali de todas as formas puras e escandalosas que conheço para que os deuses, ofendidos, te pudessem arrancar do meu peito e castigar-me com a desejada misericórdia de não mais te sentir… Mas até nisso eles falharam, vê tu… Ri-me de mim próprio e deles… Em silêncio sacudi os pensamentos enquanto o rumor distante das ondas, tranquilo, voltava a acordar o bater do meu coração…

 

A lua já apareceu, cheia e imensa como o mais belo dos globos de cristal que algum dia existirão… Levantei-me... Dei dois passos e parei para sacudir a areia das calças e da camisa… Algo me fez olhar para trás e então reparei que no sítio onde estive deitado, o luar recortava duas silhuetas na areia, uma ao lado da outra, como que de mãos dadas… Posso jurar que, nesse breve instante, a brisa me fez chegar a fragância do teu inconfundível perfume… Agradeci ao universo e, lentamente, regressei a casa... 

 

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18
Abr16

“Só mais cinco minutos, vá lá…”

Entre Voos

 

Acordei… O cheiro a pão acabado de fazer invadiu pacatamente o meu quarto e despertou-me os sentidos. Imiscuiu-se por entre os lençóis que me mantêm quente nesta manhã fria e trouxe-me o adocicado do fermento ainda percetível no odor morno e enfarinhado do pão estaladiço que repousa na máquina que deixei, na véspera, programada para as 6h00. Olho para o telefone e vejo que faltam exatamente onze minutos para as 6h30, hora a que se ouviria uma melodia serena se, entretanto, não tivesse desativado o alarme.

 

Lá fora, os sons da manhã vão preguiçosamente acordando o dia e chegam-me distorcidos, lentos, baços, como se estivesse completamente imerso na água tépida de uma banheira enorme. Coloco os lençóis por cima da cabeça para prolongar essa sensação e, como habitualmente, consigo imaginar-te aqui, onde te encontraria aninhada no meu mundo, sorrindo com um resmungo fingido de “Já é para acordar??”, sorrindo com mimo enquanto me puxarias para ti e pedirias como só os anjos sabem, irrecusavelmente: “Só mais cinco minutos, vá lá…”

 

É nestes momentos de sossego que mais te tenho saudades… não saudades do que fomos, mas saudades de te voltar a conhecer, de te voltar a fazer sorrir como que pela primeira vez, sabes?... Saudades das novas conversas que teríamos, saudades da oportunidade de te cativar o olhar, saudades de entrelaçar distraidamente os meus dedos nos teus, saudades de redescobrir a textura da tua pele naquele toque propositadamente mais demorado, saudades de confirmar a temperatura dos teus lábios ao toque macio dos meus… saudades de sentir contigo tudo aquilo que sinto… saudades de acontecermos, todos os dias, pela primeira vez…

 

Acordei… Mas está bem, vou ficar aqui deitado mais cinco minutos, abraçado a ti, a acariciar o teu cabelo longo, imerso no perfume que deixaste gravado de forma indelével na minha pele… Beijo-te com ternura em cada pálpebra tua, enquanto me deixo embalar pelos silêncios que trocamos e confesso, num suspiro, toda a saudade que me fazes sentir...

 

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08
Abr16

As horas invisíveis...

Entre Voos

 

Lenta e cuidadosamente, o sol que rompe o meu horizonte vai acordando a manhã, transfigurando o quadro de cinzentos anoitecidos num estimulante cenário de cores variadas, repleto de pormenores e vida… A estrada monótona que se recortava na luz artificial dos faróis do carro, ganha significado, revelando-se uma autoestrada com capacidade de transformar o tempo de condução num espaço de liberdade e o zumbido silencioso do motor num sussurro tranquilizador. O sistema de som “Harman Kardon” entrega sem mácula os acordes iniciais de “Catch & Release”, de Matt Simons, enriquecendo a experiência matutina com esta inspiradora e harmoniosa sonoridade...

 

A conduzir há quase duas horas, estas viagens tornam-se vagares de liberdade, portais sensoriais que me transportam para paisagens interiores de mar e memória. Abro o teto panorâmico deixando que a brisa fresca da manhã me acorde sentidos adormecidos e me lembre do toque aveludado da tua mão na minha, a caminho do último fim de semana… Nestes momentos mágicos, nestas horas de quietude e paz, cabem vidas inteiras num piscar de olhos, toda a eternidade num arrepio de pele…

 

Este é o meu espaço... Nele, subo a bordo do barco que navega nos teus olhos, de velas enfunadas, sentindo a maresia no teu perfume, o calor do sol nos teus lábios bem delineados, e o tempo a parar nos gestos arrastados com que compões o teu longo cabelo... Nele, penso em nós sem ruídos nem filtros, cúmplices sem destino nem passado, juntos apenas porque sim, apenas porque nos apetece, apenas porque nos sentimos bem… Nele, componho diálogos imaginários para preencher a tua ausência ou, outras vezes, aproveito o silêncio apenas para usufruir da música que me envolve enquanto, sereno, vou acompanhando a melodia tamborilando com os dedos o volante de couro macio...

 

Aumento o volume do som, sorrio, e oiço-me a cantar o refrão “Everybody got their reason, Everybody got their way, We're just catching and releasing, What builds up throughout the day; And it gets into your body, And it flows right through your blood, We can tell each other secrets, And remember how to love", disfrutando do melhor que temos na vida: tempo e memória... A viagem, cada viagem, transforma-se assim numa máquina do tempo, um relógio mágico cujos ponteiros se movem, não para trás mas, partindo das boas memórias, evoluindo em espiral para novos despertares interiores, dando substância a estas horas invisíveis onde te espero…

 

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02
Abr16

Cúmplices, agarramos o infinito no tempo de uma troca de olhares...

Entre Voos

    

E aqui estamos... O reboliço da refeição e as tarefas dos trabalhos de casa dos miúdos terminaram… A cozinha está arrumada e tudo parece estar no sítio certo… O murmúrio da noite, tranquilo, invade o nosso espaço e escorre pelas janelas ao som de um ou outro carro distante… Imagino-te a entrar no quarto, devagar, com o teu sorriso habitual, na antecipação da trégua merecida no final de mais um dia cansativo, frenético, completo, perfeito…

 

Sentar-te-ias no cadeirão do quarto, aquele cadeirão azul onde deixarias a roupa preparada para amanhã. Tiras o relógio e depois os brincos, com o vagar e a precisão dos gestos familiares, primeiro o da orelha esquerda, depois o da direita… Olhas-me e ris-te, enquanto colocas tudo na prateleira ao lado da cama, num amontoado irrepreensível… Tiras os teus sapatos de salto alto e oiço-te um esboço de satisfação enquanto massajas um dos teus pés… Despes-te… “Porque me olhas assim, oh tonto?” – perguntas, enquanto o teu perfume inspira o meu desejo… Afastas o cabelo dos olhos, deixando que os seus reflexos de sol sobressaiam no pijama que vestiste com cuidado, mesmo sabendo que daqui a pouco te irei despir…

 

Quedar-me-ia silencioso, afastando os lençóis para nos deitarmos… Não quero falar, pois sei que não há palavras para expressar o que vejo, para descrever esta paz que mansamente se espalha no meu peito... Não me ocorrem frases para mais um texto, quando o tema sobre o qual poderia escrever está à minha frente e me observa com a mais bela história de amor a brilhar no olhar… Deitamo-nos e, de forma instintiva, aproximas-te de mim na reconquista diária do teu lugar certo no aconchego do meu abraço…

 

Pensativa, acariciar-me-ias o peito por dentro do meu pijama cinzento… A forma como te aninhas em mim está repleta de sabedoria ancestral, quietude, silêncio, paz e lugares seguros. Olhas-me novamente e ris-te baixinho… A forma como coças o nariz com um dedo e depois inspiras o calor da nossa pele, escancara as portas do meu coração e só me apetece ficar ali a olhar-te, deliciado, a disfrutar do milagre quotidiano de te ter ali, sentindo a magia de um tempo que nos juntou… não consigo evitar que a emoção me atraiçoe quando acomodo o teu rosto no cálice das minhas mãos, para beber dos teus lábios a água que me preenche de vida… Digo que te amo, tu sorris e dizes “Eu também…”

 

Falaríamos um com o outro como se não nos víssemos há séculos, desde a hora do jantar, rindo em sussurros e recordando as peripécias dos apaixonados, trocando as histórias do nosso dia por beijos e carícias meigas… Cúmplices, agarramos o infinito no tempo de uma troca de olhares, imortalizando esses instantes preciosos antes de se tornarem doces memórias, preenchendo a vida que vai dançando, inexorável, em direção à linha do horizonte…

 

Na penumbra da noite tudo se abrevia em tons de cinzento, mas sorrimos porque sabemos que dentro de nós perduram infinitas cores que pintam a distância dos nossos dias... “Para a minha alma aprendiz, és todos os sonhos e desafios que um dia desejei, na mulher fantástica a que pertenço...” – diria enquanto, com o cuidado e a candura de uma primeira vez, libertava os botões do teu pijama e me entregava a ti, novamente…

 

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