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Entre Voos

A vida também acontece entre voos, entre momentos, entre o ontem e o amanhã. "Entre Voos" é um espaço de sentimentos feitos palavras, onde se espera pela vida como por um voo na sala de um qualquer aeroporto...

Entre Voos

A vida também acontece entre voos, entre momentos, entre o ontem e o amanhã. "Entre Voos" é um espaço de sentimentos feitos palavras, onde se espera pela vida como por um voo na sala de um qualquer aeroporto...

18
Fev16

É abraçado a ti que todas as noites adormeço…

Entre Voos

 

Os habituais barulhos da cidade já se calaram há muito tempo. De perto, chegam-me os sussurros tranquilos do mar a cortejar a areia, numa dança diária, cuidada e paciente… A chuva fria que desaba a intervalos regulares, esbate os contornos da noite emprestando uma cintilação difusa às formas naturais que se adivinham ao longo da praia… O vento forte de hoje devolve-me o cheiro do sal roubado ao mar, impregnando os meus sentidos com este bálsamo único, premiando o meu torpor com este desmedido espetáculo, como se as forças da natureza tivessem conspirado entre si para hoje me gratificarem com o seu melhor desempenho… Mas noite alguma será capaz de me esconder o caminho até ti…

 

Sereno, observo da janela da sala, como se de uma tela enorme se tratasse, os milhares de tons de cinzento escuro e negro que compõe o céu… Volto-me e, em cima do sofá comprido e espalhadas à volta da guitarra, vejo as folhas com as letras e acordes das músicas que estive a tocar… Seguro na mão uma chávena de chá preto que saboreio encostado ao vidro da janela, na tentativa de afastar o frio que teima em se demorar dentro do peito… Ainda vibram em mim os acordes da música que toquei para ti. Os meus dedos percorreram as cordas da guitarra como se fossem fios do teu longo cabelo loiro e, durante esse tempo, senti que estavas ali, ao meu lado, com o rosto apoiado entre as tuas mãos, sentada em cima das tuas longas pernas cruzadas, ouvindo-me com uma manta à tua volta e, nos lábios, aquele sorriso que me ilumina…

 

Dói-me a distância que nos separa, rendido que estou às saudades que te tenho. Nenhuma das viagens que fiz te trouxe para mais perto, nem acalmou a nostalgia que os meus gestos e pensamentos denunciam. Olho para este lago interior e ele devolve-me sempre, teimoso, o reflexo do teu rosto sorridente... Tenho saudades das tuas pequenas coisas... De encontrar um cabelo teu no meu pullover azul; de te ver a colocar o batom, de manhã, em frente ao espelho, enquanto falas comigo e eu a cair para dentro dos teus lábios; de chegar ao armário e ter que desviar uma camisa tua, branca, no meio das minhas; de encontrar um brinco teu, ou um anel, na nossa mesa de cabeceira; de, ao fazer a cama de manhã, ser despertado pela clara insinuação do perfume que sempre deixavas nos lençóis; enfim, saudades de ti…

 

E depois estou cansado de responder aos outros: “Bom dia, sim, está tudo bem”, “Sim, bem melhor, o trabalho ajuda”… quero dizer-lhes que me fazes falta; gritar que te amo tanto como sempre amei; quero dizer-lhes que nada consegue atenuar a falta que me fazes ao sentido dos dias; que por vezes, nas minhas refeições solitárias, saboreio de memória o gosto do teu arroz doce, a textura do teu delicioso rolo de carne; quero dizer-lhes que me faz falta a luz do teu olhar, a segurança do teu abraço, a magia doce do teu perfume; que me faz falta percorrer a tua pele macia para nela saciar a sede da minha; que me falta a paz do teu coração e o sossego que as tuas mãos transmitem ao acariciar o meu peito… Posso ter-te perdido dos meus dias, mas é abraçado a ti que todas as noites adormeço: amo-te, sabes?...

 

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02
Fev16

"Fala-me de um dia perfeito..."

Entre Voos

 

Acompanhada pelo trompete de Chris Botti, a voz de Sting pairava no ar criando o ambiente apropriado ao momento de descontração e intimidade que se sentia na sala. Deitados no sofá, as costas dela encostavam-se serenas ao peito dele, enquanto pensava que a sua vida encaixava perfeitamente no abraço seguro que a envolvia, como se nada mais lhe importasse naquele momento... Ele ia-lhe beijando a pele macia do pescoço, de vez em quando, e a sua barba provocava nela deliciosos arrepios de protesto…

 

"Fala-me de um dia perfeito..." – pediu-lhe com a sua habitual voz, sedutora como a superfície de um lago tranquilo, num desafio ao silêncio morno que se instalara enquanto enrolava, distraída, uma madeixa do seu longo cabelo louro. Ele sorriu, ajeitou-se ao lado dela, ganhando espaço para a voltar de frente para si, de forma a poder olhá-la naqueles olhos meigos e profundos pelos quais se apaixonava todos os dias desde que a conhecera…

 

“Um dia perfeito” – começou – “é cada dia em que me permites passear os meus dedos pelo teu cabelo macio e sentir que vais estar aí, dando sentido às nossas noites de outono e inverno, na construção de dias de primavera e verão…”. Enquanto o dizia, os dedos da sua mão esquerda penteavam-lhe o cabelo para trás, desviando-o dos olhos e das orelhas pequenas que tantas vezes lhe ouviram palavras de deleite…"Um dia perfeito é cada dia em que o tempo só faz sentido ao lado da pessoa que o consegue parar quando nos olha, como tu fazes..."

 

Fechou os olhos e inspirou fundo a fragrância que o cabelo dela libertava, inebriado. “Um dia perfeito é cada dia em que posso sentir o teu perfume tão perto e, assim, ter o paraíso ao alcance de um beijo na tua face de anjo… ” - disse-lhe, para lhe tocar suavemente com um beijo meigo em cada pálpebra e depois, apaixonado, na curva que a boca dela desenhava ao sorrir… "Um dia perfeito é cada dia em que perco a respiração quando nos despedimos de manhã para só voltar a respirar no final da tarde, ressucitado no calor dos teus lábios..."

 

“Um dia perfeito" – continuou – “é cada dia que começa com o som da minha voz a desejar-te bom dia e termina com os teus pés frios encostados ao calor dos meus, debaixo dos lençois brancos que escolhemos para a nossa cama… Um dia perfeito é cada dia em que o meu coração percorre contigo as horas ingratas em cada passo que dás longe de mim, sabendo que o trabalho é apenas uma forma de ocupar o tempo até voltar a estar contigo…”

 

Deixou que o silêncio entre eles alojasse o solo do trompete da música que continuava a ouvir-se e acariciou-lhe o rosto, olhando-a nos olhos enquanto concluía: “Sim, um dia perfeito é qualquer um passado contigo, juntos ou afastados, com a certeza que, se um dia nos perdermos na estrada que estamos a construir, conseguiremos sempre encontrar o caminho de regresso seguindo a luz que cada um acendeu na alma do outro… Um dia perfeito é cada dia em que posso dizer, olhando-te assim, que te amo...” Ela sorriu como só ela sabe sorrir, fingindo resistir quando ele a puxou para si para lhe tomar os lábios sensuais, perguntando-lhe: "Que vais fazer amanhã?... E no resto da tua vida?..."

 

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17
Dez15

Na quietude notívaga das horas de insónia onde regularmente te encontro...

Entre Voos

 

Chove. A noite quedou-se de mansinho ao meu lado. Não dei pela sua chegada, mas trouxe consigo tempo e memórias para partilhar. Sirvo-me de um James Martin’s sem gelo, como sempre, e coloco Bach a tocar para mim, a tocar para nós. Deixo que os acordes, tão familiares como o teu perfume, pintem progressivamente a sala de estar e me conduzam para o sofá onde a tua ausência nos acompanha. Penso-te: tanta coisa por dizer...

 

Falar-te-ia do matinal acordar etéreo dos grãos de pó, hipnóticos, numa dança harmoniosa, contínua, sustentada pela desafinação aparente dos seus movimentos que, no meu quarto ainda obscurecido, procuram os raios de luz que vencem as frestas da persiana semiaberta e se espraiam nos lençóis desalinhados da cama onde a forma do teu corpo, já acordado, reclama o espaço das noites loucas e das manhãs aninhadas em abraços cúmplices…

 

Ou do beijo apaixonado de "até logo" soprado pelos teus olhos, num gesto tão genuinamente belo e naturalmente distraído como a espessura incomensurável do nada que delimita uma bola de sabão multicolor que rodopia, única, robusta, na momentânea existência de quatro eternos segundos para, dali a pouco, nos salpicar de alegria agridoce da sua história, da sua partida…

 

Ou da felicidade desenfreada, simples e verdadeira, que sentimos quando passeamos os dois de mão dada, que transborda do riso das crianças que correm atrás dos pombos na praça da vila, só porque sim, só porque apetece naquele instante abandonarmo-nos à existência sem planos, a ser felizes ali, ao lado daqueles nossos amigos acabados de conhecer e que serão os nossos melhores amigos para toda a vida que existe entre o ali e o final daquela correria, que abraçaremos ao cortar a imaginária linha da meta ao pé do banco de madeira pintado a verde, no limite da praça, vencedores, ofegantes, abraçados, ruidosos, como se tivéssemos acabado de viver a aventura mais significativa de toda a nossa existência, naquela praça, naquele instante, único, eterno, apaixonados…

 

Ou do arrepio que os meus lábios quentes provocam na tua pele macia, como a carícia de uma brisa fresca no final de uma tarde de verão, à beira mar, na praia onde te levei para me declarar eternamente teu, para te entregar o que de mais sagrado e mais profano tenho, naquela praia onde quis parar o tempo para nos demorarmos a olhar aquela cascata perfeita, para ficarmos ali, perpetuamente ali, de vidas dadas, naquela praia onde a leveza das tardes é prometida na espuma do mar que adorna o teu corpo nu, onde a certeza das noites loucas transparecem no olhar desafiador com que me despes, e onde a firmeza do amor só encontra paralelo na robustez das falésias que, sem idade, nos rodeiam e protegem…

 

Ou da paz tranquilizadora que me invade no voo do flamingo que aparece, em câmara lenta, no sorriso sincero que se desenha progressivamente no teu rosto quando me apanhas a olhar para ti, eu inebriado pela doçura dos gestos quotidianos enquanto preparamos o jantar e conversamos sobre coisas simples, eu cativado pela fluidez graciosa da tua serenidade, da tua esperança, da tua força, eu conquistado ao lugar certo de todas as coisas na tua vida...

 

Ou do som cristalino e sempre renovado das gotas de chuva lá fora, ao princípio da noite, com o lume a crepitar na lareira da sala e dois copos de vinho tinto esquecidos na pequena mesa de apoio enquanto nos amamos lentamente, olhos nos olhos, para lá da pele, para lá do corpo, para lá do tempo, no lugar mágico onde as almas se encontram e partilham as memórias intemporais de um amor inevitável…

 

Ou do significado imenso contido na beleza geométrica de uma teia de aranha, tão frágil, tão resistente, como a vida, como os vínculos que nos ligam para sempre às pessoas que nos marcam, tão frágeis e, no entanto, tão resistentes, que perduram nas saudades, nos lugares, nos momentos, nas músicas, na quietude notívaga das horas de insónia onde regularmente te encontro e conversamos, choramos e rimos…

 

Falar-te-ia dessas horas suspensas onde nos encontramos por dentro, do amor que te tenho para sempre, da falta que me fazes na substância dos dias e da forma sempre inesperada como te despedes devagar, dissipando-te com a primeira claridade da manhã, deixando-me apenas com vestígios do teu perfume e sinais de um zimbro lacrimoso que me cobre o rosto e emoldura o copo já vazio que teimo em acariciar, distraído, na minha mão… Nenhum sopro de clemência existe no silêncio de quem se ama...

 

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14
Dez15

Nos meus sonhos, encontramos nos olhos um do outro a razão para nos atrevermos a amar novamente...

Entre Voos

 

Cansado de mais uma semana alucinante de trabalho e reuniões sucessivas, no momento em que ao deitar fecho os olhos, rapidamente escorro com uma felicidade antecipada para o mundo de sonhos onde invariavelmente te encontro...

 

Nos meus sonhos és feliz. Enquanto caminhamos de mãos dadas pela areia desta praia que em tempos recolheu mais lágrimas tuas do que devia, somos felizes… Nos meus sonhos olho para ti e revejo em câmara lenta, outra e outra vez, os segundos preciosos que partilhamos, sentindo na forma como o sol brilha nos caracóis do teu longo cabelo de ouro, que és feliz. Nos meus sonhos oiço os sons perfeitos que emolduram o teu riso dobrado, radiante, e sinto que o meu olhar te conquistou novamente e que os teus lábios resplandecem perto dos meus…

 

Nos meus sonhos sou eu quem alivia a dor que insistes em suportar sozinha no penoso arrastar dos dias frios... Nos meus sonhos, nunca ninguém ganhou o que quer que fosse fugindo: nem paz, nem a si próprio. Nos meus sonhos encontras em mim a tranquilidade que abraça a tua completude, que sublinha o teu sorriso... Nos meus sonhos compreendo as razões do teu coração, compreendo as palavras e textos e lágrimas e abraços e amor que fazem de nós mais do que apenas duas pessoas que se amam…

 

Nos meus sonhos vejo-me a segurar, protetor, a tua mão pequena e macia dentro da minha, enquanto, juntos, lançamos para a Fonte de Trevi uma moeda com a qual prometemos o nosso futuro. Nos meus sonhos beijamo-nos rendidos à inevitabilidade do universo, como nos romances do Nicholas Spark. Nos meus sonhos, as lágrimas que caem dos teus olhos são lágrimas de céu, lágrimas de azul, lágrimas de sol e felicidade.

 

Nos meus sonhos, encontramos nos olhos um do outro a razão para nos atrevermos a amar novamente... Nos meus sonhos eu consigo preencher o teu sonho… Nos meus sonhos és feliz… e isso basta para me fazer feliz….

 

 

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23
Out15

Aparecem assim em vagas, sabes?... As saudades, quero dizer…

Entre Voos

 

 

Aparecem assim em vagas, sabes?... As saudades, quero dizer… Pressentem-me incauto, talvez num momento mais tranquilo da noite e assaltam sem piedade nem esforço a minha paz negociada: pura e simplesmente chegam e ocupam-me com a convicção de um direito conquistado há muito…

 

Encontro-te nos meus sonhos, quando as sombras da noite se agigantam cá dentro. De olhos fechados, bem acordado, percorro-te de cor, sempre como da primeira vez… Sei que gostas de dormir na tua cama, debaixo do teu edredão de penas. Sei que te fica visível uma veia mesmo no meio da testa quanto de ris de uma piada. Sei que não gostas da forma como eu conduzo, em especial quando estamos atrasados para chegar ao hotel onde iremos passar o fim de semana. Sei que gostas do meu sorriso tanto quanto eu do teu perfume. Sei que gostas de saltos altos e de vestir as minhas camisas brancas. Sei que tens um pescoço bonito que valoriza os teus brincos quando prendes o cabelo num rabo-de-cavalo. Sei quão macias são as tuas mãos quando encontram as minhas num passeio ao longo da praia…

 

Sei que gostas do meu abraço. Sei que gostas que faça panquecas e torradas de manhã, para um batalhão de esfomeados. Sei que adoras as tuas aulas e que és grata à vida. Sei que exiges sempre o teu melhor e que o fazes com um sorriso. Sei que adoras a tua família mais do que tudo no mundo. Sei a que sabem as tuas lágrimas recolhidas pelos meus lábios e o som que a alegria tem na tua boca. Sei que gosto do teu rolo de carne e que o teu arroz doce é o melhor do mundo. Sei que bebes café com canela e és capaz de ler um livro todo numa tarde de chuva. Sei que gostas de praia e do silêncio.

 

Sei que gostas de chegar a casa e acender um incenso que deixará toda a confusão do dia no lado de fora da porta de entrada. Sei que gostas de ficar a ver um filme romântico tapada com uma manta quente, no final da noite, com uma chávena de chá verde por perto. Sei que nas noites frias gostas de encostar os teus pés gelados ao calor dos meus. Sei que gostas de dormir de pijama completo para nos demorarmos nos olhos um do outro enquanto lenta e apaixonadamente te descubro a pele quente. Sei que quando me olhas, com a minha cara entre as tuas mãos, consegues ver a minha alma. Sei qual a tua cor preferida e a profundidade da doçura nos teus olhos quando falas aos filhos. Sei que gostas de coisas simples e com significado.

 

Sei que por vezes, quando sorris, na realidade choras por dentro, e que por vezes, quando choras, é por alegria que o fazes. Sei que choraste nas primeiras vezes que fizemos amor. Sei que chorei na última vez que fizemos amor… Sei que tirámos os pés do chão para que pudéssemos voar juntos…

 

Aparecem assim em vagas, sabes?... As saudades de ti, quero dizer… 

 

 

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