Árvore de Natal (ou amar-te hoje como se te fosse perder amanhã...)
Acabei de fazer a árvore de Natal e estou satisfeito com o resultado. Na realidade todos os anos faço a mesma coisa: aquelas cinco árvores estilizadas, um enfeite de Natal prateado e as habituais luzes azuis que piscam tão devagar como os meus olhos faziam quando te viam a entrar cá em casa, na tentativa de prolongar para sempre aquele instante mágico... Não gosto menos dela pelo facto de a fazer da mesma maneira todos os anos. Na verdade, a familiaridade das suas formas conforta-me sempre que chego a casa. Da árvore, quero dizer.
Mais um ano passou e o tempo cobrou o seu tributo de forma regular e implacável… Este ano tenho mais espaço vazio ao lado da árvore. Este ano tenho menos prendas, menos abraços, menos beijos para distribuir. A árvore continua igual, plástica e brilhante, mas a roda do tempo deixou o seu rasto bem definido dentro de mim, gravado entre textos plangentes e memórias felizes…
Por vezes esquecemos que não passamos de borboletas brilhantes que saíram de um casulo neste planeta minúsculo, perdido na vastidão de um Universo em expansão, uma anomalia classificada como milagre pela improvável possibilidade de, sequer, existirmos… Agitamos as asas e pensamos que voamos, que controlamos o nosso voo quando, afinal, estamos apenas a ser impelidos pela brisa indulgente que antecede o rigor do temporal… Na realidade, deslocamo-nos entre voos descoordenados, insistindo em designar “para sempre” o raro instante efémero em que os nossos olhos encontram um sorriso e, nesse breve sopro, conseguimos voar de forma síncrona num mundo fundamentalmente assíncrono…
Com um aperto de melancolia no coração, olho para a árvore de Natal para confirmar que está tudo no sítio e, no entanto, falta tudo… Tudo desapareceu demasiado depressa, sem aviso, como quando queremos agarrar aquela água na concha das nossas mãos e ela teima em se escapar por entre os dedos… Apesar de tudo, sei que te amei em cada "hoje" como se soubesse que "amanhã" te perderia para um temporal de sentimentos que nós, borboletas que mal sabíamos voar, achámos irremissíveis ao olhar para o casulo que deixámos para trás… Acendi as luzes, azuis, que decoram a árvore, e sinto que piscam devagar, com saudade... brilham, mas não conseguem iluminar este imenso espaço vazio…