"My Funny Valentine"...
O dia amanhecera bastante frio e a chuva caía insistente ensopando-lhe a gabardine e os sapatos. O vento empurrava as poucas folhas das árvores que ladeavam a estrada, obrigando-o a manter as mãos nos bolsos do casaco para se proteger do frio, enquanto se aproximava da esplanada onde, anos atrás, se habituara a tomar café… Na verdade, há mais de seis meses que não aparecia por ali: custava-lhe estar no sítio onde tudo começara, onde a vira pela primeira vez. Mas hoje apetecera-lhe passar por lá, afinal era véspera de São Valentim e, como sabemos, tudo pode acontecer nesta altura…
Estava nervoso. Não sabia se ela apareceria pois não tinha obtido resposta à mensagem que lhe enviara convidando-a para tomar café. Fora há tanto tempo que se separaram mas, no entanto, parecia ter sido ontem… Não sabia o que lhe dizer nem o que fazer se a encontrasse, apenas sabia que ainda a amava. Foi por isso que sempre evitou os locais onde suspeitava que ela pudesse estar, como esta esplanada onde tantas vezes fizeram planos para o fim de semana ou se deixaram estar simplesmente a fruir da companhia um do outro, a conhecerem no silêncio dos seus olhares cúmplices o verdadeiro sentido do tempo partilhado, ali, de mãos dadas, a gravarem na pele as memórias que tornariam a sua relação eterna…
Quando ela chegou não foram precisas palavras. O abraço silencioso que deram uniu-os até à alma, lembrando-lhes porque se continuavam a amar para lá do tempo e das circunstâncias. Não havia nenhum outro sítio onde desejassem estar, pois era ali que pertenciam. Desejaram-se em cada sorriso que trocaram e fizeram amor nos olhos um do outro… Não foram precisas palavras. Não teceram desculpas porque nada havia a perdoar. Poderiam encontrar muitas razões para se afastarem em direções opostas, mas lograram encontrar a única que os faria ficar juntos: amavam-se como só se ama uma vez na vida e ambos sabiam disso…
Foi ela quem primeiro estendeu a mão para agarrar na dele. Ele deixou que ela o encaminhasse para casa. Afinal, o amor não é apenas sobre o quanto se gosta da outra pessoa, mas sobretudo o quão especial e único aquela pessoa é capaz de nos faz sentir a nós próprios… Afastaram-se devagar, a brilhar por dentro...