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Entre Voos

A vida também acontece entre voos, entre momentos, entre o ontem e o amanhã. "Entre Voos" é um espaço de sentimentos feitos palavras, onde se espera pela vida como por um voo na sala de um qualquer aeroporto...

Entre Voos

A vida também acontece entre voos, entre momentos, entre o ontem e o amanhã. "Entre Voos" é um espaço de sentimentos feitos palavras, onde se espera pela vida como por um voo na sala de um qualquer aeroporto...

27
Set15

Soube que já não existo em ti...

Entre Voos

 

Estou há quase duas horas a conduzir, a dirigir-me para mais uma reunião, longe de casa, longe de tudo, longe... Não sendo a sala de espera de um aeroporto, na realidade o carro não deixa de ser mais uma sala de espera onde os minutos e as horas são consumidos com a habitual lentidão: não deixo de sentir que me estou a dirigir a lado nenhum. Estou há duas horas a conduzir e a única certeza que tenho é que me dirijo para lado nenhum... Para onde ir, depois de teres apagado todos os caminhos que me levavam a ti, depois de teres deixado bem claro que me querias fora da tua vida? Que dia é hoje? Em que mês estamos? Olho à minha volta e os momentos que vivemos surgem-me em cada canto, recortados nas fotos espalhadas pelo chão da nossa pele. Aqui o tempo arrasta-se numa quase imobilidade, subjugado às memórias doces polvilhadas com o som da tua ausência. Que dia é hoje? Que mês é este?...

 

E, no entanto, ainda aqui estou, teu, como no primeiro dia em que nos beijámos, com um coração que ainda bate descompassado quando uma memória tua me envolve como uma brisa suave, cálida, límpida, breve... Eu deveria ter percebido... Que lugar tem o perdão nos erros que decidimos juntos?

 

Foi naquele domingo de setembro que eu soube: disseram-me que tinhas alguém... Lentamente deixei-me afundar no torpor do modo de sobrevivência que tomou conta de mim. Lentamente deixei-me afundar e reduzir até ao tamanho de um ponto insignificante no meio dos lençóis que foram nossos. Vontade de fugir, mas fugir para onde, quando tudo o que temos e somos está dentro de nós?

 

Soube que o rosto que os teus olhos percorrem já não é o meu. Soube que as mãos que apertam as tuas têm outra textura. Soube que as carícias que agora te arrepiam não pertencem aos meus dedos outrora suaves. Soube que os teus sorrisos já não se destinam aos meus olhos. Soube que os teus longos cabelos macios e da cor do ouro se espalham agora noutro peito. Soube que os poemas que lês são delineados com outra caligrafia, outras memórias, outro futuro. Soube que nos sussurros que te fazem brilhar já não se ouve a minha voz. Soube que os lábios que exploram o teu corpo não têm o gosto dos meus e até os braços que te confortam têm outro perfume. Foi naquele domingo de setembro que soube que o meu coração não tem lugar dentro do teu, que o motivo da tua paz já não mora nos meus olhos...

 

Foi por outros que soube que este outono será um inverno demorado. Soube que nada, nunca mais, voltará a ser como era, nem como poderia ter sido... Soube que já não existo em ti e que agora voo sozinho...

 

 

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