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Entre Voos

A vida também acontece entre voos, entre momentos, entre o ontem e o amanhã. "Entre Voos" é um espaço de sentimentos feitos palavras, onde se espera pela vida como por um voo na sala de um qualquer aeroporto...

Entre Voos

A vida também acontece entre voos, entre momentos, entre o ontem e o amanhã. "Entre Voos" é um espaço de sentimentos feitos palavras, onde se espera pela vida como por um voo na sala de um qualquer aeroporto...

22
Jul16

Naquela hora incerta em que o fim do dia se torna um perfeito início de noite…

Entre Voos

 

Duas folhas tombam da copa das árvores e caem a custo, devagar, como se o calor que hoje se sente tornasse o ar mais espesso, denso, palpável, transformando o seu lento rodopiar até ao chão num movimento hipnótico, riscado a castanho, vermelho e amarelo, como trechos de um filme em câmara lenta… Descem vagarosamente, as folhas, cruzando-se em movimentos descoordenados, tão lentos como a minha respiração… Este final de dia vem encontrar-me sozinho, sentado debaixo dos plátanos desta praça larga, convidativa. Espero... Num dos bancos virados para as escadas de acesso ao recinto, espero e observo as pessoas que passam com a tranquilidade de quem inicia o fim de semana, pisando as folhas acabadas de cair na calçada… Olho novamente para o relógio de pulso sem, no entanto, conseguir ver as horas…

 

À minha esquerda, noutro banco, um casal conversa... De vez em quando uma leve brisa faz-lhe voltear os cabelos no rosto e, de forma aparentemente automática, ela afasta-os dos olhos enquanto lhe sorri, segura, luminosa... Ele, por sua vez, sabe agora apreciar aquele gesto mais do que nunca, desde que se encontraram pela primeira vez… Tudo está no sítio certo, como sempre deveria ser: a temperatura do ar, as pessoas que se passeiam na praça, os plátanos que se meneiam lentamente libertando o seu adocicado e característico aroma, a musicalidade do riso dela, o toque casual da mão dele no seu braço, o olhar de cada um mergulhado nos gestos do outro e a cor do céu já no crepúsculo, naquela hora incerta em que o fim do dia se torna um perfeito início de noite…

 

Nas esplanadas apetecíveis, empregados diligentes começam a servir jantares para dois em mesas onde a luz de cada vela insinua contornos de lábios que se apetecem. Enquadrando vozes murmuradas e apenas interrompida a espaços por risos sonoros e tintinar de copos que brindam, ouve-se a Diana Krall numa melodia doce, suave, despertando emoções e convidando a um demorado toque de mãos em apaixonados que se querem desde sempre... Deambulo por entre desconhecidos sorridentes, aproveitando o tempo para deixar que o nervoso da espera se dissolva nos meus passos demorados enquanto me dirijo para o restaurante onde fiz a reserva. Sento-me à mesa e espero…

 

“Talvez consigas vir...” – penso, enquanto faço rodar no copo o vinho tinto acabado de servir e sorrio com as recordações que o gesto me desperta… Chegarás certamente com elegantes sapatos de salto alto, dentro de um vestido justo que contornará o teu corpo como um abraço meu, flutuando na segurança de um caminhar determinado, tranquila no modo casual como prenderás uma madeixa do teu longo cabelo louro atrás da orelha direita... A vertigem do teu olhar, quando me encontrares, dará forma às notas inconfundíveis do teu perfume que a brisa se encarregará de entregar, sem demora, ao arrepio que percorrerá a minha pele quando te aproximares e, sorrindo como se não nos víssemos apenas desde ontem, disseres: “Olá, desculpa o atraso!”... Sorrio... Talvez consigas vir, quem sabe?... E talvez, desta vez, fiques um pouco mais... Talvez te sentes ao meu lado e, como dantes fazias, me acaricies o rosto, fazendo com que o tempo pare... Talvez, por um instante eterno, o universo exista apenas por causa de ti, na luz do teu olhar quando encontra o meu...

 

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08
Abr16

As horas invisíveis...

Entre Voos

 

Lenta e cuidadosamente, o sol que rompe o meu horizonte vai acordando a manhã, transfigurando o quadro de cinzentos anoitecidos num estimulante cenário de cores variadas, repleto de pormenores e vida… A estrada monótona que se recortava na luz artificial dos faróis do carro, ganha significado, revelando-se uma autoestrada com capacidade de transformar o tempo de condução num espaço de liberdade e o zumbido silencioso do motor num sussurro tranquilizador. O sistema de som “Harman Kardon” entrega sem mácula os acordes iniciais de “Catch & Release”, de Matt Simons, enriquecendo a experiência matutina com esta inspiradora e harmoniosa sonoridade...

 

A conduzir há quase duas horas, estas viagens tornam-se vagares de liberdade, portais sensoriais que me transportam para paisagens interiores de mar e memória. Abro o teto panorâmico deixando que a brisa fresca da manhã me acorde sentidos adormecidos e me lembre do toque aveludado da tua mão na minha, a caminho do último fim de semana… Nestes momentos mágicos, nestas horas de quietude e paz, cabem vidas inteiras num piscar de olhos, toda a eternidade num arrepio de pele…

 

Este é o meu espaço... Nele, subo a bordo do barco que navega nos teus olhos, de velas enfunadas, sentindo a maresia no teu perfume, o calor do sol nos teus lábios bem delineados, e o tempo a parar nos gestos arrastados com que compões o teu longo cabelo... Nele, penso em nós sem ruídos nem filtros, cúmplices sem destino nem passado, juntos apenas porque sim, apenas porque nos apetece, apenas porque nos sentimos bem… Nele, componho diálogos imaginários para preencher a tua ausência ou, outras vezes, aproveito o silêncio apenas para usufruir da música que me envolve enquanto, sereno, vou acompanhando a melodia tamborilando com os dedos o volante de couro macio...

 

Aumento o volume do som, sorrio, e oiço-me a cantar o refrão “Everybody got their reason, Everybody got their way, We're just catching and releasing, What builds up throughout the day; And it gets into your body, And it flows right through your blood, We can tell each other secrets, And remember how to love", disfrutando do melhor que temos na vida: tempo e memória... A viagem, cada viagem, transforma-se assim numa máquina do tempo, um relógio mágico cujos ponteiros se movem, não para trás mas, partindo das boas memórias, evoluindo em espiral para novos despertares interiores, dando substância a estas horas invisíveis onde te espero…

 

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02
Abr16

Cúmplices, agarramos o infinito no tempo de uma troca de olhares...

Entre Voos

    

E aqui estamos... O reboliço da refeição e as tarefas dos trabalhos de casa dos miúdos terminaram… A cozinha está arrumada e tudo parece estar no sítio certo… O murmúrio da noite, tranquilo, invade o nosso espaço e escorre pelas janelas ao som de um ou outro carro distante… Imagino-te a entrar no quarto, devagar, com o teu sorriso habitual, na antecipação da trégua merecida no final de mais um dia cansativo, frenético, completo, perfeito…

 

Sentar-te-ias no cadeirão do quarto, aquele cadeirão azul onde deixarias a roupa preparada para amanhã. Tiras o relógio e depois os brincos, com o vagar e a precisão dos gestos familiares, primeiro o da orelha esquerda, depois o da direita… Olhas-me e ris-te, enquanto colocas tudo na prateleira ao lado da cama, num amontoado irrepreensível… Tiras os teus sapatos de salto alto e oiço-te um esboço de satisfação enquanto massajas um dos teus pés… Despes-te… “Porque me olhas assim, oh tonto?” – perguntas, enquanto o teu perfume inspira o meu desejo… Afastas o cabelo dos olhos, deixando que os seus reflexos de sol sobressaiam no pijama que vestiste com cuidado, mesmo sabendo que daqui a pouco te irei despir…

 

Quedar-me-ia silencioso, afastando os lençóis para nos deitarmos… Não quero falar, pois sei que não há palavras para expressar o que vejo, para descrever esta paz que mansamente se espalha no meu peito... Não me ocorrem frases para mais um texto, quando o tema sobre o qual poderia escrever está à minha frente e me observa com a mais bela história de amor a brilhar no olhar… Deitamo-nos e, de forma instintiva, aproximas-te de mim na reconquista diária do teu lugar certo no aconchego do meu abraço…

 

Pensativa, acariciar-me-ias o peito por dentro do meu pijama cinzento… A forma como te aninhas em mim está repleta de sabedoria ancestral, quietude, silêncio, paz e lugares seguros. Olhas-me novamente e ris-te baixinho… A forma como coças o nariz com um dedo e depois inspiras o calor da nossa pele, escancara as portas do meu coração e só me apetece ficar ali a olhar-te, deliciado, a disfrutar do milagre quotidiano de te ter ali, sentindo a magia de um tempo que nos juntou… não consigo evitar que a emoção me atraiçoe quando acomodo o teu rosto no cálice das minhas mãos, para beber dos teus lábios a água que me preenche de vida… Digo que te amo, tu sorris e dizes “Eu também…”

 

Falaríamos um com o outro como se não nos víssemos há séculos, desde a hora do jantar, rindo em sussurros e recordando as peripécias dos apaixonados, trocando as histórias do nosso dia por beijos e carícias meigas… Cúmplices, agarramos o infinito no tempo de uma troca de olhares, imortalizando esses instantes preciosos antes de se tornarem doces memórias, preenchendo a vida que vai dançando, inexorável, em direção à linha do horizonte…

 

Na penumbra da noite tudo se abrevia em tons de cinzento, mas sorrimos porque sabemos que dentro de nós perduram infinitas cores que pintam a distância dos nossos dias... “Para a minha alma aprendiz, és todos os sonhos e desafios que um dia desejei, na mulher fantástica a que pertenço...” – diria enquanto, com o cuidado e a candura de uma primeira vez, libertava os botões do teu pijama e me entregava a ti, novamente…

 

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21
Dez15

Conquistando a eternidade na luz dos teus olhos, oferecendo-te a minha vida num sussurro quente...

Entre Voos

 

 

Não consegui voo mais cedo, pelo que cheguei ao hotel passavam já das 22 horas locais. Cansado mas ainda sem sono, decidi subir até ao bar no último piso deste elegante hotel, onde nunca tinha pernoitado. Como habitualmente, o ambiente das conversas amenas e da música calma criam o ambiente que me arrasta para os acontecimentos dos últimos dias, quando fechaste a porta de casa com estrondo, ameaças e palavras duras... tão duras quanto a dor que sentias... Rejeitaste o meu olhar de incompreensão, afastaste as minha mãos estendidas que esperavam em vão o teu abraço de conciliação, obrigaste-me a parar nos lábios as palavras ébrias de amor que afloraram do meu coração e erigiste um muro de silêncio e esquecimento entre nós… Quantas palavras proferi em vão do lado de fora desse muro alto, palavras que precisei de te dizer na conversa que nunca chegámos a ter…

 

Se há alguém no mundo que me sabe de cor, de facto, és tu… Conheces o calor da minha pele e todas as suas imperfeições, sabes qual a verdade das minhas alegrias e a razão dos tormentos do meu coração, conheces as tonalidades da minha luz e todas as sombras e vincos da minha alma… Tu conheces o meu verdadeiro nome desde um tempo tão antigo que nem sequer há lugar para ele na memória das palavras, senão na luzência das nossas almas ou no toque pacificador que os nossos dedos geram quando percorrem o rosto um do outro, demorados e paradisíacos, faiscando de reconhecimento nos sentidos há muito adormecidos… E na tentativa de clarificar quem e o que somos, não há adjetivos nem substantivos que o consigam expor. Procuro na dissimulada comodidade das palavras a definição daquilo que só no mais fundo do nosso coração se encontra: a essência e a razão do brilho nos meus olhos quando penso em ti… Só o coração pode definir-nos e fá-lo de forma exemplar quando bate dentro de um peito que não é o nosso...

 

Sim, bem sei que já não habito em ti e que às nossas almas não será dada oportunidade de edificar novas memórias: não descobriremos novas rotas para navegar no infinito daquilo que somos, não criaremos novos dicionários de amor e mesmo as palavras que ainda perduram apenas deixam a sensação de nos termos olvidado de qualquer coisa marcante que, apesar de tudo, não conseguimos identificar...

 

Assim, contigo a ocupar o meu pensamento, pedi um whisky sem gelo, desejando estar aí abrigado na cama de nuvens e algodão doce que é o teu coração, desejando estar na tua sala, imaginando a lareira acesa onde a madeira crepita e enche o ar com cheiro de alegria e família, nessa confusão de barulhos, prendas, papel de várias cores e brincadeiras de miúdos, desejando estar nessa sala, agora, neste preciso instante, para me aproximar de ti de forma tranquila mas decidida, forçando o tempo e o barulho a pararem, só tu e eu existimos, eu sem tirar os meus olhos dos teus, tu alargando o bonito sorriso que emoldura o teu rosto enquanto me observas a aproximar, até chegar bem perto e te abraçar pela cintura fina... Depois balançar-nos-íamos numa dança lenta, quase parada, ao som de uma música que só nós dois ouviríamos, abraçando-te com a certeza de quem se apaixona todos os dias pela primeira vez pela mesma mulher, por ti, acariciando o teu longo cabelo, embriagando-me no perfume que dele emana, roubando aqui e ali mel aos teus lábios, conquistando a eternidade na luz dos teus olhos, oferecendo-te a minha vida num sussurro quente, junto ao teu pescoço perfeito: "Adoro-te tanto... Feliz Natal."

 

 

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17
Dez15

"As palavras que nunca te direi" - Cartas...

Entre Voos

 

 

(do filme: "As palavras que nunca te direi" - Carta de Catherine)

 

"A todos os navios no mar, a todos os portos de abastecimento. Para a minha família, e para todos os amigos e desconhecidos. Isto é uma mensagem e uma oração.

A mensagem é que as minhas viagens me ensinaram uma grande verdade. Já tinha aquilo que todos procuram e que poucos encontram: aquela pessoa no mundo que nasci para amar para sempre. Uma pessoa como eu da zona de Otter Blank, do misterioso Atlântico Azul. Uma pessoa rica em tesouros singelos, que se fez aquilo que é. Um porto em que estou sempre em casa. Nenhum vento ou problema, nem mesmo uma pequena morte, poderá fazer ruir esta fortaleza.

A oração é a pedir que toda a gente encontre um amor assim e através dele seja curado. Se a minha oração for ouvida toda a culpa será apagada e todos os remorsos e toda a raiva será extinta.

Por favor Deus. Ámen."

 

(do filme: "As palavras que nunca te direi" - Carta de Catherine)

 

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(do filme: "As palavras que nunca te direi" - Primeira carta de Garrett)

 

 

 "(...) Escrevo para te dizer que estou a trabalhar para alcançar essa paz. E para te dizer que lamento tantas coisas. Lamento não ter tratado melhor de ti para que não passasses minuto algum com frio, ou com medo, ou doente. Lamento não me ter esforçado mais por te dizer aquilo que sentia. Lamento nunca ter arranjado a guarda da porta. Arranjei-a agora. Lamento as discussões que tive contigo. Lamento não te ter pedido mais vezes desculpa por ser demasiado orgulhoso. Lamento não ter elogiado tudo aquilo que vestias e todos os teus penteados. Lamento não te ter agarrado com tanta força, que nem Deus te pudesse arrancar de mim."

 

(do filme: "As palavras que nunca te direi" - Primeira carta de Garrett)

 

 

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